sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Meu Cunhado é o Bicho




Cheguei em casa tarde da noite, cansado, depois de um dia de trabalho tenso. Parei meu carro na garagem e ao descer do veículo, um gato preto, assustado, cruzou a minha frente, parou por alguns segundos e me olhou fixamente com aqueles olhos brilhantes, parecia que queria me dizer algo. O que gatos poderiam dizer a nós, seres humanos, bom, um montão de coisas, pensei. Deixei pra lá. Entrei sem fazer muito barulho, minha irmã e meu cunhado estavam morando por uns tempos em casa. Passavam por momentos difíceis e eu tinha que ajudá-los, estavam desempregados há algum tempo, o aluguel atrasado estava virando uma bola de neve. Nunca fui muito com a cara do meu cunhado, afinal de contas, se cunhado fosse bom, não começava com “cu” e nem comia a minha irmã. Além do mais, o cara tinha muito pelo envolta da orelha e uns pelos enormes que saiam pelo nariz, sem falar na mania de roer as unhas. O cara sentava no sofá e enquanto assistia a tv roia as unhas e depois cuspia os pedacinhos no chão, mas enfim, o fato é que eles estavam juntos e eu me prontifiquei a ajudá-los. E apesar de tudo isso ele era muito prestativo, sempre me ajudava nos problemas da casa. Sempre ajudava a minha irmã em trabalhos voluntários, posso até dizer que meu cunhado é o cara. Voltando. Fui até a cozinha, belisquei uma gororoba na geladeira e tomei um copo d’água. Caminhei até a sala, e pensei em assistir tv, mas ao ver os pedacinhos de unha no chão, perto do sofá, desisti.

Subi as escadas lentamente, sem fazer barulho, não queria acordá-los. Passei bem devagar pela porta do quarto deles, e vi que ela estava encostada.   Ao passar, escutei sons estranhos, que não os habituais de um casal fazendo sexo, estranhei, mas fui para o meu quarto, sentei na cama para tirar os sapatos. Minha atenção ficou voltada ao barulho. Que porra de barulho é esse, pensei comigo. Decidi ir até lá dar uma espiadinha. Ao abrir a porta do quarto bem devagar, deparei-me com a cena mais horrenda que já vi na minha vida. Era surreal. Um bicho comia a minha irmã. Era inacreditável. Ela já estava sem um braço e sem uma perna, tinha o ventre rasgado. Ele tinha uma feição horrível, dentes e garras enormes que arrancavam nacos sangrentos de carne do corpo da minha irmã. Ele a devorava prazerosamente. Fiquei puto, onde estava meu cunhado na hora que minha irmã mais precisava dele. Acho que ele já estava morto. Sai de fininha e vim correndo até aqui na delegacia... Alguém tem que ir até lá...pelo amor de Deus!

— E como este “bicho” era? — perguntou o policial que anotava tudo o que o homem falava.

— Era grande... Enorme... Tinha pelos que saiam pela orelha e nariz, dentes muito grandes, unhas compridas...

— Tá bom, Me fala uma coisa... — o policial olhou para o delegado que estava sentado a mesa e sorriu com ar de deboche. — Ele tinha algum detalhe que chame a atenção?

— Como assim... Algum detalhe que chame a atenção? Você escutou o que eu falei? — disse o homem em tom de desespero.

— Você está me desacatando? — gritou o policial. — Como ele estava vestido?

— Não senhor... ele estava sem camisa... — o homem parou, seu rosto ficou mais branco do que já estava. — É o meu cunhado...

— Como é o seu cunhado? — o policial parou de escrever. — Primeiro o senhor disse que não gostava dele, depois disse que ele era o cara, e agora está dizendo que era ele?

O homem fechou os olhos e voltou até a cena na porta do quarto. — Sem camisa... a tatuagem nas costas... os pelos na orelha e no nariz... as unhas...

—- E então desembucha? O que tem seu cunhado?

O Homem suava e tremia de medo.

— Meu cunhado é o bicho!



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