Cheguei em casa tarde da noite, cansado, depois de um
dia de trabalho tenso. Parei meu carro na garagem e ao descer do veículo, um
gato preto, assustado, cruzou a minha frente, parou por alguns segundos e me
olhou fixamente com aqueles olhos brilhantes, parecia que queria me dizer algo.
O que gatos poderiam dizer a nós, seres humanos, bom, um montão de coisas,
pensei. Deixei pra lá. Entrei sem fazer muito barulho, minha irmã e meu cunhado
estavam morando por uns tempos em casa. Passavam por momentos difíceis e eu
tinha que ajudá-los, estavam desempregados há algum tempo, o aluguel atrasado
estava virando uma bola de neve. Nunca fui muito com a cara do meu cunhado,
afinal de contas, se cunhado fosse bom, não começava com “cu” e nem comia a minha
irmã. Além do mais, o cara tinha muito pelo envolta da orelha e uns pelos
enormes que saiam pelo nariz, sem falar na mania de roer as unhas. O cara
sentava no sofá e enquanto assistia a tv roia as unhas e depois cuspia os
pedacinhos no chão, mas enfim, o fato é que eles estavam juntos e eu me
prontifiquei a ajudá-los. E apesar de tudo isso ele era muito prestativo,
sempre me ajudava nos problemas da casa. Sempre ajudava a minha irmã em
trabalhos voluntários, posso até dizer que meu cunhado é o cara. Voltando. Fui
até a cozinha, belisquei uma gororoba na geladeira e tomei um copo d’água. Caminhei
até a sala, e pensei em assistir tv, mas ao ver os pedacinhos de unha no chão,
perto do sofá, desisti.
Subi as escadas lentamente, sem fazer barulho, não
queria acordá-los. Passei bem devagar pela porta do quarto deles, e vi que ela estava
encostada. Ao passar, escutei sons estranhos, que não os
habituais de um casal fazendo sexo, estranhei, mas fui para o meu quarto,
sentei na cama para tirar os sapatos. Minha atenção ficou voltada ao barulho.
Que porra de barulho é esse, pensei comigo. Decidi ir até lá dar uma
espiadinha. Ao abrir a porta do quarto bem devagar, deparei-me com a cena mais horrenda
que já vi na minha vida. Era surreal. Um bicho comia a minha irmã. Era
inacreditável. Ela já estava sem um braço e sem uma perna, tinha o ventre rasgado.
Ele tinha uma feição horrível, dentes e garras enormes que arrancavam nacos
sangrentos de carne do corpo da minha irmã. Ele a devorava prazerosamente. Fiquei
puto, onde estava meu cunhado na hora que minha irmã mais precisava dele. Acho
que ele já estava morto. Sai de fininha e vim correndo até aqui na delegacia...
Alguém tem que ir até lá...pelo amor de Deus!
— E como este “bicho” era? — perguntou o policial que
anotava tudo o que o homem falava.
— Era grande... Enorme... Tinha pelos que saiam pela
orelha e nariz, dentes muito grandes, unhas compridas...
— Tá bom, Me fala uma coisa... — o policial olhou
para o delegado que estava sentado a mesa e sorriu com ar de deboche. — Ele
tinha algum detalhe que chame a atenção?
— Como assim... Algum
detalhe que chame a atenção? Você escutou o que eu falei? — disse o homem
em tom de desespero.
— Você está me desacatando? — gritou o policial. —
Como ele estava vestido?
— Não senhor... ele estava sem camisa... — o homem
parou, seu rosto ficou mais branco do que já estava. — É o meu cunhado...
— Como é o seu cunhado? — o policial parou de
escrever. — Primeiro o senhor disse que não gostava dele, depois disse que ele
era o cara, e agora está dizendo que era ele?
O homem fechou os olhos e voltou até a cena na porta
do quarto. — Sem camisa... a tatuagem nas costas... os pelos na orelha e no
nariz... as unhas...
—- E então desembucha? O que tem seu cunhado?
O Homem suava e tremia de medo.
— Meu cunhado é o bicho!
kkkkkkkkkkkkkkk muito bom!
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